Colocando em prática um piloto de disciplina extensionista durante a quarentena: motivações, caminhos e contribuições
O isolamento social e todas as mudanças que experimentamos nos últimos quatro meses parecem estar longe de ter um fim. Não pretendo fazer uma reflexão sobre o que de fato cada um de nós está passando, já que essa experiência, apesar de tida como coletiva, é única para cada um de nós.
Este texto vai explicar, de uma maneira simples, o caminho que percorri para criar um piloto de disciplina extensionista na UTFPR. As condições de trabalho remoto e todos os entraves gerados por nós mesmos, pelo nosso tímido domínio de ferramentas de ensino online e pela inexperiência de nossas instituições foram fundamentais para que eu chegasse à ideia de propor este experimento.
Motivação
No início do isolamento fomos bombardeados de informações sobre ferramentas para videoconferência, comunicação instantânea, gravação de vídeo-aulas, cursos online etc. Hoje, várias e várias reuniões virtuais depois, podemos dizer que já é normal preparar um café, abrir uma sala virtual, entrar na ligação de vídeo, ouvir (ou não), se manifestar (ou não) e desligar. Dominamos um pouco melhor essas ferramentas e já aceitamos o novo normal.
É interessante olhar pra trás e ver que tive forças para lançar um podcast, fazer lives em redes sociais e dar mais atenção ao meu blog. Eu nunca teria pensado ou me interessado em fazer um podcast ou uma live se não fossem as condições que vivemos hoje. Porém, nesse tempo, quando eu me percebia refletindo sobre as minhas aulas e os meus alunos, todo caminho cogitado me deixava mal: ofertar aulas remotas pode ferrar com a saúde mental de todo mundo; não ofertar, também. O que fazer, então?
Há pouco mais de uma semana decidi que ofertaria, sim, a minha disciplina de redes de forma remota, mas não apenas para os meus alunos matriculados no semestre 2020/1, e sim para quem tiver interesse, inclusive o público externo. Assim comecei a desenhar a nova disciplina, sem perceber que, a minha "nova" forma de pensar, me fez criar uma proposta extensionista.
Afinal, qual é exatamente o objetivo?
Já que o andamento das disciplinas regulares está um verdadeiro caos, meu objetivo foi aproveitar melhor o meu tempo e doar aquilo que tenho à disposição para quem pode e quer aproveitar. Surgiu aí a ideia de criar um curso básico de redes de computadores com uma abordagem baseada em estudos de caso.
O fato deste curso ser aberto às comunidades interna e externa, permite que pessoas que nunca ouviram falar sobre como funciona a Internet passem a ter uma ideia de como o texto aqui publicado chega até elas; e, àqueles que sabem como isso acontece, dá uma nova chance de revisar conteúdos que podem ter acabado no esquecimento.
Como registrei a ação?
A partir deste ponto vou usar informações sobre a instituição onde atuo, a UTFPR Curitiba.
A ação que propus foi registrada paralelamente de duas formas: como projeto de ensino de graduação (junto à Diretoria de Graduação e Educação Profissional - DIRGRAD) e como projeto de extensão (junto ao Departamento de Extensão - DEPEX). Evidentemente, cada um desses registros possui um foco distinto, mas a ação é realizada de forma conjunta.
Como estruturei a ação?
Para explorar a característica extensionista e fazer valer a pena para a comunidade interessada, organizei o cronograma da ação de uma maneira bem diferente do usual: intercalando aulas conteudistas e transmissões de eventos ao vivo.
- Atividades em modo assíncrono: com as aulas gravadas e disponibilizadas sob demanda será possível abordar o conteúdo introdutório dos principais tópicos estudados na área de Redes de Computadores e também alguns estudos de casos simples;
- Atividades em modo síncrono: com os eventos transmitidos será possível promover a interação e o compartilhamento de experiências entre profissionais da área e os participantes do curso.
Outro aspecto importante desta ação foi a decisão de não propor uma avaliação final. Alternativamente, decidi que buscaria um jeito de incentivá-los a contribuírem para um projeto de disponibilização de conhecimento livre que só funciona se tiver colaboradores. Lembrei, então, da Live sobre Direitos Autorais que participei e da proposta do Wikilivros, que busca produzir livros abertos de forma colaborativa. A entrega final desta ação será a composição de um texto curto sobre qualquer tópico da área de redes de computadores e sua posterior publicação na plataforma Wikilivros, deixando, assim, uma contribuição singela, mas importante para a comunidade.
Resultados esperados com esta ação
Em quatro dias de inscrições, o curso já recebeu mais de 220 inscrições. Ao final desta ação, espero poder falar com mais propriedade sobre como é colocar em prática uma disciplina extensionista e fazer o gerenciamento de um grupo grande de participantes.
Espero que os participantes adquiram conhecimento fundamental sobre redes de computadores e se interessem em continuar trabalhando com a área no futuro. Acredito que estes participantes poderão fazer importantes contatos com os palestrantes convidados e ampliar o networking. Além disso, este pode ser o início de uma comunidade local ativa na área.
E, é claro, espero que a ação possa criar uma consciência maior sobre a necessidade de se apoiar movimentos pelo conhecimento aberto.
Apoios conquistados e agradecimentos
Além do apoio dos órgãos já citados (DIRGRAD e DEPEX), conto com o apoio do Departamento Acadêmico de Eletrônica (DAELN) da UTFPR Curitiba, principalmente da Profa. Tânia Monteiro.
O conhecimento adquirido com o Cafezíneos (este blog) e seus derivados (Cafezíneos Podcast e Cafezíneos Live), foi decisivo para me encorajar a realizar eventos com palestrantes convidados. Naturalmente, eu não poderia deixar de integrar esses meus "filhotes" à ação, visando facilitar e ampliar a disseminação de conhecimento, seja ela por meio de texto, áudio ou vídeo. Além destes, tenho um novo projeto em criação, que vai promover a criação de tutoriais abertos para o ensino de redes.
Por fim, agradeço especialmente à Profa. Luciana Martha Silveira pelas conversas sempre inspiradoras, à Profa. Áurea Niada por me apoiar e ajudar a enxergar aspectos importantes na minha proposta e à Assessora Jiliane Movio pela cordialidade e paciência em tirar as minhas dúvidas com relação à extensão.
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O que você acha desta proposta? Vamos iniciar uma discussão a respeito do nosso papel como educadores em instituições públicas, de como podemos compartilhar nosso conhecimento com a sociedade e como nossos alunos podem contribuir para o conhecimento livre.
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